Precisamos de mais capitalismo

Mauro Souza
4 min readApr 27, 2016

Eu estava lendo um artigo na The Atlantic e achei essa citação interessante:
“If you were to break capitalism down into two very important tenets, one is the freedom of movement of people, thought, and goods, and the freedom of choice. The second aspect is a distribution of resources according to people’s abilities rather than according to people’s needs.

That first tenet of capitalism, I think, is beautiful, and I wouldn’t let go of it. And if that ideology comes with the baggage of distribution of resources according to abilities, then I take that package, rather than a package where you restrict people’s freedom of thought and what kinds of choices they can make, even if it’s combined with a distribution of resources according to people’s needs.”

É uma abordagem interessante do capitalismo, e posso dizer que concordo com o autor. Mesmo incorrendo no “argumento por falta de imaginação”, não consigo imaginar uma forma de distribuir recursos de acordo com a necessidade sem tirar a autonomia das pessoas.

Não acho que o capitalismo seja perfeito, está bem longe disso, mas é melhor do que as alternativas. É como o petróleo: causa dano ao meio ambiente, é a razão de muitas guerras, é perigoso à saúde, difícil de carregar, mas não temos tecnologia para usar outra coisa. Hidrogênio é mais difícil obter, energia nuclear é bem mais complexa, armazenar eletricidade é ineficiente, a física não deixa o moto contínuo funcionar, então tem que ser petróleo mesmo.

Algumas pessoas apontam a crescente pobreza no continente africano como resultado da exploração capitalista pura e simples. Embora parcialmente correta, esconde um aspecto bem mais determinante: a corrupção. Os países mais pobres do mundo são os que possuem os piores governos. Basta olhar para a história do Zimbábue, de Angola, da Somália, da Guiné-Bissau. Governos que não se importam com a população e governam (ou governaram) como se o país fosse propriedade deles. O capitalismo fez sua parte, é claro, mas fez o mesmo trabalho na África do Sul, no Japão, na Alemanha…

Um dia desses li uma história dizendo que a internet na Romênia é uma das mais rápidas do mundo. É que o governo romeno é tão burocrático e lento que quando pensou em regular a Internet, era tarde demais. O país todo estava cabeado com fibra ótica, com cabos Ethernet, com hotspots de todo tipo. E qualquer pessoa com um pouco de dinheiro, o suficiente para comprar um switch Cisco usado no eBay e um rolo de cabo consegue fazer seu próprio provedor. Liberdade de empreender.

Por outro lado, surgiram na Internet histórias sobre o manual com todos os 28 cortes de cabelo legalizados na Coréia do Norte. Igualdade.

E a Shippify, uma startup brasileira de Belo Horizonte tentou fazer um negócio entregando bolo, material de escritório, comida de cachorro, coisas pequenas que precisam de entrega rápida, e receberam uma carta não muito amistosa dos Correios, que possuem monopólio de serviço postal, mas se recusaria a entregar um bolo de aniversário, por exemplo. Falta de liberdade econômica, traduzida em menos empregos para os jovens da Shippify, menos velocidade no serviço postal, menos inovações, menos desenvolvimento. E por isso um pacote que comprei na China em dezembro de 2014 (isso mesmo, 2014) chegou ontem na minha casa, tendo levado 2 semanas entre a fábrica e o Brasil, e mais de um ano só para sair do centro de distribuição dos Correios e chegar na comunidade distante e praticamente isolada no meio do nada, que é a capital do nosso país… A Curiosity chegou mais cedo em Marte…

Eu quero ser livre para empreender, para negociar, para pensar e agir. Mas no país como está, não tenho essa liberdade. Tenho conversado com alguns amigos sobre algumas idéias de negócio, mas algo tão simples quanto colocar um roteador wireless na minha janela e dividir minha internet (e o custo) com o vizinho é considerado ilegal, a não ser que eu tenha licença da Anatel.

Quase qualquer ramo de atividade é pesadamente fiscalizada, regulamentada, formularizada e “carimbalizada”. A liberdade de pensar em algo novo, investir e empreender é seriamente limitada pelo peso do Estado. Sem essa liberdade, sair do país é a única forma de empreender. E com essa saída perdemos os empreendedores, perdemos as idéias, o capital, a inovação, a invenção. Ficamos mais pobres como país, não apenas financeiramente, mas culturalmente, tecnologicamente, socialmente. Nos empolgamos com a Tesla e seus carros, com a Apple, com o Google, a NTT Docomo, e terminamos geralmente falando “e sabe quando vão chegar aqui? Nunca…”

Nossas fábricas fecham por falta de competitividade, não temos uma área de pesquisa importante em praticamente área nenhuma (a Embrapa e Embraer são notáveis exceções), nossas universidades pesquisam, patenteiam e engavetam, nosso povo olha torto para o mínimo sucesso de quem quer que seja, nosso Estado é movido a propina ou é imóvel, nossos portos são terrivelmente ineficientes, nossas crianças não sonham em ser médicos, engenheiros, astronautas, mas em ser jogadores de futebol.

Precisamos seriamente de mais capitalismo…

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