O calcanhar de Aquiles da Democracia

Mauro Souza
3 min readMay 23, 2016

A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas. (Winston Churchill)

Um dia desses eu estava no trabalho conversando sobre o jogo de Xadrez, e um colega mencionou uma das mais longas partidas já jogadas: Garry Kasparov contra o mundo. Nesse jogo, Kasparov jogou contra 50.000 pessoas ao mesmo tempo, que mandavam sugestões de movimento via email, a sugestão mais escolhida era seguida.

O Time Mundo contava com 4 jogadores experientes como consultores, um mestre de xadrez comentava as jogadas e foi criado um fórum de discussão onde os jogadores analisavam as jogadas e decidiam como iriam jogar.

Qual foi o resultado? Obviamente Kasparov ganhou. Um gênio contra a média das opiniões do mundo chega obviamente na vitória do gênio. Mesmo com toda a ajuda possível, o mundo perdeu.

Isso me levou a pensar na democracia como um modo de governo fadado ao fracasso. Mesmo sabendo que todas as demais formas já tentadas foram fracassos retumbantes e piores que ela. Não há como se chegar em uma solução prática nem funcional, ao somar um consenso de ideias não especialistas, votando em propostas díspares em campos diversos da vida política (como economia, reforma agrária, política externa, direitos humanos, entre tantos assuntos). É simplesmente impossível. É como o capitão de um navio de cruzeiro, ao se deparar com uma avaria devastadora, chamar os hóspedes no convés e inquirir sobre a solução.

Ultimamente vivemos um debate político extenso, e ao mesmo tempo inútil. Vemos um mesmo fato sendo interpretado de modos diametralmente díspares, um mesmo indicador sendo mostrado como prova de sucesso e de fracasso ao mesmo tempo por duas correntes antagônicas. As redes sociais fervilhavam com comentários incandescentes e ácidos dos dois lados, como se a honra da família estivesse sob ataque. Como se a honra ainda fosse algo a ser defendido.

Escolhemos nossos representantes levando em conta a campanha eleitoral, que é apenas uma peça de ficção. Dizem que um julgamento é uma competição para definir quem tem o melhor advogado, e eu diria que uma eleição é uma competição para definir quem tem o melhor diretor de marketing.

Promessas de campanha não significam absolutamente nada. Ninguém tem compromisso com o que prometeu, e mesmo que realize o exato oposto do que disse que faria, não existe penalidade alguma. É um exemplo extremo e extenso de propaganda enganosa. Você compra uma embalagem escrita “Leite” e ao chegar em casa tem areia. E não pode devolver, nem pedir uma caixa de leite. É areia e pronto. Não gostou volta lá e compra de novo. Sem desconto.

A média das idéias escolhe um plano de governo falso, feito por um político de propaganda, que é movido por seus próprios interesses e os interesses de seus acionistas, que toma ações interesseiras e completamente desacopladas das necessidades e desejos de quem o escolheu. E após as eleições, quem quer que tenha sido eleito não sofre pressão nenhuma dos eleitores, e estes não sentem possuir nenhuma responsabilidade sobre o próprio voto, nem se interessam em fazer seu voto valer alguma coisa. Não tem como dar certo.

A democracia é o Time do Mundo. Só que sem o fórum de discussão. Sem os consultores altruístas. E os jogadores nem sabem o que estão jogando…

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